Quando olhamos para a terra, muitas vezes olhamos para ela apenas como sustento para as árvores e outras plantas. Mas ela é muito mais que isso. A terra é toda ela vida, composta por inúmeros seres vivos. Entre eles existe um grupo extremamente importante para a fertilidade dos solos, os decompositores.
Cada vez que cai uma árvore, uma folha, um fruto para a terra, são eles que fazem com que este volte a fazer parte do solo, tornando esse solo fértil. Não só é bom para as florestas como para todo o ecossistema, a água é absorvida por estes solos fofos, que funcionam como uma esponja fazendo com que a água das chuvas não escoe diretamente para os rios, entrando assim nos aquíferos subterrâneos. Por outro lado as árvores retribuem a esses seres vivos a sua proteção, na medida em que a sua sombra permite a sua existência, impossibilitando que os raios solares incidam diretamente nos solos.
A destruição dos solos tem vindo a ser cada vez maior com o desenvolvimento humano, e nas florestas com a proliferação de monoculturas, aprovadas muitas das vezes só porque “sim”! Hoje em dia está na ribalta o eucalipto, e agora imagine-se milhares de hectares surribados onde este seres vivos são simplesmente despojados da superfície da terra e completamente expostos ao calor intenso do sol, e como tal, tais seres começam a desaparecer.
O eucalipto cresce e os seus ramos e folhas após um desbaste ou a cada corte ficam na maior parte das vezes na terra, onde a vida se torna ténue e fraca. Corte após corte os solos começam a ficar compactados devido à inexistência de decompositores e outros animais que antes abriam túneis e tocas nos solos da floresta. Depois surgem os incêndios cada vez mais constantes deixando o solo completamente INERTE.
No concelho de Mação este é um fenómeno constante. Outrora as nossas terras eram ricas em biodiversidade quer a nível de flora quer fauna, uma riqueza natural que permitiu a existência de vários povoados espalhados pelas nossas serranias. Mais tarde começaram a surgir plantações de pinheiro bravo, no qual as principais atividades era a resinagem e o pastoreio, entre outras.
Hoje em dia estes povoados estão a desaparecer, pois o eucaliptal acaba com o trabalho no campo, podem ter dezenas de hectares na “terrinha” e levar toda a vida noutro local fora do concelho. Pouco há a fazer pelo que vemos! Deixa-los crescer e mandar alguém os desbastar ou cortar. É dinheiro e gentes que saem do concelho.
Ora vejamos, quem hoje quer ir viver para as pequenas povoações do concelho de Mação? Parece que está tudo para acabar, os animais cada vez são mais escassos, os caçadores muitas vezes falam: “Não há caça!” Pudera não existem habitats para puder existir. Só mesmo o resistente javali teima em andar por ai.
A nível de flora muitas são as árvores autóctones que começam a rarear entre os pinheiros, eucaliptos e acácias, na paisagem. Continuam a haver pequenos nichos com algumas dessas espécies, como os zimbros na Zimbreira, os azereiros no Aziral ou as aroeiras na Ortiga, alguns carvalhos, entre muitas outras em que a sua distribuição começa a ficar comprometida, devido à proliferação desenfreada de eucaliptal.
Isto não acontece apenas no nosso concelho, mas sim na maioria do nosso país, e uma grande falha começa no ensino escolar onde simplesmente não se incute um modo de criar uma cumplicidade com o nosso planeta.
Mas quem depende de quem? Conseguiria o planeta terra viver sem nós?! Seremos assim tão vitais para a terra? Ou será ao contrário? Acredito que cabe a cada concelho cuidar do seu património e este património natural é tão valioso. A criação de parques ou reservas municipais onde fossem criados habitats com espécies recolhidas nesse mesmo concelho, fomentar nesses mesmos habitats a existência de muito animais que ali viveriam não fosse a mão humana os condicionar a zonas extremas.
Um local que viesse a colmatar a inexistência de educação ambiental nas escolas, onde se pudessem realizar visitas, associações que promovessem actividades, viveiros etc… Um local onde se fosse criando uma cumplicidade ambiental com as gerações futuras. Um dia podemos arriscar vir a encontrar um homem já velho que acredite que o eucalipto é uma árvore autóctone portuguesa.
Gady