Quem vai à freguesia de Cardigos, a norte no concelho de Mação, ainda pode encontrar alguns vestígios anteriores ao aparecimento do motor, quando o engenho humano recorria ao vento e à força da água para por a trabalhar velhos moinhos.
Nos Colos de Cardigos ainda podemos encontrar dois velhos moinhos que em outros tempos eram bem necessários ao muito povo que habitava por estas terrinhas espalhadas pelas nossas serranias.
Hoje em dia já não trabalham, um foi convertido numa habitação e um outro ainda lá permanece, onde apenas as pedras teimam resistir ao passar dos anos e foi esse que me chamou mais a atenção, pelo que até fiz um pequeno desenho rápido para ficar como registo.
Depois de tiradas umas poucas de fotografias e um pouco de conversa com pessoas já de bastante idade, com mais conhecimento que eu, lá fui desvendando algumas curiosidades.
Há primeira vista vemos que precisa ali de alguma mãozinha pois a lage que sustenta a entrada deste moinho está partida e aos poucos poderá parte da parede vir parar ao chão, a entrada está repleta de tojos já em flor e algumas silvas, ambas plantas muito “agradáveis” de tocar. (risos).
Ali tudo é feito em pedra, à excepção de uma argola de ferro numa parede e o ferro que circunda uma velha pedra redonda. Nas escadas para o primeiro piso, encontramos essa pedra que já terá sentido muito trigo e milho a saltitar por ali.
Em tempos passados dizia-me o Zé Maria do monte do meio de S. Bento que fará 90 anos dia 13 de Julho, que aqueles moinhos sempre os conheceu velhos, e que há mais de 50 anos que os velhos moinhos estão parados mas ainda se recorda de os ver trabalhar com os “Panos”. Segundo ele naquele tempo havia muitas searas por ali, e o mato que hoje vemos pelos “cabeços” não chegavam para o povo, era tudo guardado, e que em todas as casas havia burros e mulas… outros tempos sem dúvida.
Falando com o Artur Silva (83 anos) das Casas-da-Ribeira de Cardigos contou que o telhado daquele velho moinho era feito de colmo, e que este era móvel e se colocava conforme o vento, depois de o colocarem a jeito era preso em estacas de pedra que lá haveria mas que não consegui encontrar. Por baixo desse telhado de colmo trabalhavam as engrenagens feitas em madeira que passavam o movimento das “velas” para as pedras que viriam a moer o cereal. Os moinhos, muito provavelmente, terão mais de 150 anos, o moinho que foi restaurado e que hoje é uma habitação ainda conheceu o “motor”, já o outro só trabalhou a vento.
Em conversa com o Sr. Tomás Lopes (82) também de Casas-da-Ribeira de Cardigos, contou que há uns 60 anos que não se mói. O moinho velho quando ele era novo era pertença de Joaquim Vicente que tinha a alcunha de Joaquim Direito, e o outro seria de José Oliveira. Disse ele que naquele tempo era tudo cultivado, e mesmo em frente à sua casa num cabeço onde hoje há mato e pinheiros havia uma bonita seara de trigo e que há 50 anos haveriam mais de 150 pessoas a morar naquela terra… velhos tempos que não voltam. Diz-me ele já com 82 anos, que os moleiros morreram velhos lá para a Isna…
O “pão” muitas vezes vinha nos foles de pele de cabra ou pano, que quando não havia vento não se moía, e que as raparigas novas que ali esperavam pelo “pão” muitas vezes para passar o tempo bailavam, e assim se alegravam naquelas tardes em que o vento não dava uma mãozinha.
Bem podemos ver a volta que o mundo deu, e o abandono que estas terras agora sofrem. Por enquanto aquelas velhas paredes com mais de um metro de largura vão aguentando as intempéries e ali permanecem mas, até quando!?. Ainda me atrevi a fazer uma pequena ilustração daquele velho moinho com pás e velas, e com o seu velho telhado de colmo.
Numa coisa estou certo aqueles dois moinhos terão sido construídos entre 1800 e 1900, e se aquelas paredes falassem muitas histórias poderiam ter sido escritas.
Por último fiquei a saber que foi em 1958 que o moinho restaurado em habitação terá passado a trabalhar a motor, antes desta data trabalharia também a vento.
Se alguém tiver informações sobre estes monumentos “recentes” escreva.
Abraço!
Em 1958 movido a motor a gasóleo.
Marca lister
Com 14 cavalos
E assim não havia problemas com o vento ,já não fazia falta.
Tinha na altura 5 anos foi a sorte de MTS, senão se mudase o sistema de moagens, mta Gentinha tinha morrido a fome.,, não fazia vento.
GostarLiked by 1 person
Ora bem verdade. Quando o vento não dava uma mão não se fazia farinha. Belo registo que aqui deixou. Escrevi este artigo no livro “Respira Natureza em Mação” pena não ter referencia na altura sobre o tipo de motor lá instalado. Abraço!
GostarGostar