No concelho de Mogadouro por muitas vezes passei junto à serra de Zava e por ali ouvi falar da “buraca dos mouros”…
E por estes dias resolvi procurar o dito lugar onde os mouros se abrigavam…
A Serra de Zava tal como a Serra de Figueira tem uma orientação sudoeste nordeste, trata-se de uma formação quartzitica com cerca de 750 metros de altitude. A paisagem é maravilhosa pois o facto de não ser muito acessível a veículos e não haver interesse económico em locais como este, o aspecto intocável permanece…
Subi esta serra pela parte noroeste, o dia não estava de muitos amigos pois estava bastante frio. Apesar de serem umas 11h estavam cerca de 5 graus, mas o facto de não chover já era bom. Poucos animais se avistam com este frio, apenas um bando de pegas azuis me chamaram a atenção, também andorinhas das rochas muito frequentes neste tipo de habitats.
Não subi até ao topo desta serra vou guardar essa visita para quando o tempo estiver melhor, talvez lá para primavera, o musgo nas rochas estava escorregadio e em certas partes das fragas apesar de não ter chovido nas últimas semanas a água aflorava à superfície.
Junto à “buraca dos mouros” sinto magia, é engraçado que naquele local existe uma passagem para a parte sudeste da serra onde o sol bate logo pela manhã. Segundo os antigos ali os pastores abrigavam-se da chuva ou do frio enquanto o gado pastaria, naquele local apesar de serrano nascia boa erva (e ainda hoje nasce), hoje o gado é quase inexistente nestas serras o que permitiu que mesmo ali crescessem uns bonitos sobreiros.
Hoje em dia este abrigo já não tem a parede que haveria noutros tempos, uma parede de pedra solta que só deixaria uma entrada no lado direito.
Cruzando a serra para sudeste encontramos uma bela paisagem, e ao descer encontro o “poço dourado”. Quem não ouviu neste país histórias de mouras encantadas? Ora aqui vai uma!
Mas antes de passar à história vou explicar um pouco o local…
Contou-me o meu sogro Mário Morais que noutros tempos quando ainda não havia água canalizada as pessoas lavavam a roupa num tanque comunitário, o antigo hoje já não existe em Zava, está outro um pouco mais acima do local de onde outrora havia o antigo. Então no inverno a água congelava de tal forma que se formava gelo com uma espessura de cerca de quatro, cinco dedos, era impossível as mulheres lavarem a roupa, então subiam até ao sopé da serra para lavar a roupa no “poço dourado” pois ali a água ficava debaixo da fraga e apanhava o sol matinal, o gelo que se formava não era tão espesso possibilitando ali lavar a roupa e seca-la logo pela manhã pendurada nas fragas ou nos arbustos ali existentes. Hoje em dia chove tão pouco que encontrei o “poço dourado” sem água e cheio de pedras, mas…
Diz a lenda que, certa altura, uma mulher que ali lavava a roupa, ao puxar por uma peça de roupa algo vinha enleado numa ponta de tecido, era um fio de ouro. A mulher espantada começou a dobra-lo na mão, mas ia dobrando e o fio nunca mais acabava e reluzia até ao fundo. Esta, cansada de tanto dobrar, e com todo aquele ouro a pesar no seu gentil braço decidiu pegar numa pedra e partir o fio de ouro. Nesse momento assustou-se com a voz de uma mulher, olhou para todos os lados e não via vivalma. A voz saía de dentro do poço: “Ai marota quebraste o meu encanto” Num instante todo o ouro que ela tinha dobrado desapareceu.
A senhora ao chegar à população contou o sucedido e graças a este feito aquele local ficou conhecido pelo “poço dourado”.
E aqui ficam mais umas fotos das zonas envolventes:
Abraço!
Pingback: De volta à serra de Zava. | RESPIRA NATUREZA