Regressei ao concelho de Mogadouro muito antes que o previsto, aproveitei para subir ao topo da Serra de Zava. Queria calcorrear a partir da zona sudoeste até à “buraca dos mouros”.
De costas para Mogadouro, encaminhei-me para o local onde queria começar a subir a serra, logo reparei nos cortes que a serra apresenta que me fizeram subir e desce-la várias vezes.
A foto não dá para entender muito bem, mas por ali é muito fácil cruzar a serra para a zona mais soalheira.
Já do lado de onde venho a frescura é outra, nas rochas cresce musgo e o frio sente-se bem melhor.
Depois de chegar às fragas, há que “dar corda aos sapatos” e subir até ao topo do primeiro maciço, fiz um pequeno esquema para perceberem do que falo.
Vale a pena, fazer um pequeno esforço, só para apreciar a paisagem, que é magnifica, os raios de sol a baterem-me na cara sabem que nem ouro. Em pano de fundo o horizonte e a Serra de Figueira que um dia também hei-de explorar. Há uns anos atrás a paisagem era diferente sem o IC a cortar a beleza daqueles campos.
O primeiro maciço que encontro é o mais pequeno, tive de descer a fraga e voltar a subir para o segundo, quando… sinto um bater de asas bem perto, de umas não, de várias. São grifos Gyps fulvus que estariam por ali pousados e que com a minha chegada levantam voo. O coração bateu forte, não estava à espera.
Sei que me aguarda mais um “fosso”, não me resta mais nada senão descer e voltar a subir a punho aquelas rochas. Por ali pouca vida se deixa ver com o frio do inverno, nem uma flor e muito pouco barulho, acredito que com a chegada da primavera tudo por estas bandas se transformará.
Subindo o terceiro maciço mais alto que os anteriores chego a um local onde em tempos existiu um castro, uma espécie de “castelo primitivo” em que a muralha se adapta ao terreno. Este remontará aos tempos dos Celtibéricos, um povo pré-romano que teve origem nos povos autóctones (iberos) da península-ibérica com os povos indo-europeus de origem Celta.
Hoje em dia apenas poderemos imaginar como seria o castro, mas se repararmos veremos como faria sentido ele se situar naquele topo em que a visão tudo abarca.
Pela península-ibérica muitos foram os povos pré-romanos que a habitaram, entre eles os famosos Lusitanos. Poderemos especular um pouco, poderia apontar dois povos Celtibéricos que poderiam ter usado este castro, os Interâmicos ou os Zoelas, ambos habitaram a antiga “Galécia” zona situada no noroeste da antiga Hispânia, que também abrangeria esta zona transmontana, mas muito haverá a estudar, pelo que prefiro relatar o que vejo.
Por vários locais observei montes ou filas de pedras, possivelmente locais onde estariam as antigas muralhas, pois as rochas não afloram daquele modo na paisagem.
Também muitos pedaços de barro, entre eles um que me despertou a atenção e que também deixo aqui para verem, simples mas mágico…
Se há pouco havia grifos a voar, agora são milhafres que voam por cima de mim, milhafre-real Milvus milvus, e são três, sento-me a observá-los, são fantásticos.
Abandono aquela zona em direcção ao próximo corte na serra, sempre pelo cume, paro para espreitar o castelo de Mogadouro por um buraco entre as rochas.
Reconheço o corte na serra, é o local onde estive há umas semanas atrás, este não é um corte como os anteriores, é mais um beco pois entra-se bem pelo lado sudeste enquanto que pelo lado oposto temos de calcorrear as fragas.
Escrevi sobre este local neste artigo, onde falei da “lenda do poço dourado”:
https://respiranatureza.com/2018/01/03/serra-de-zava-a-lenda-do-poco-dourado/
Pelo lado sudeste desço a serra, poucas horas restarão de sol, mas por agora ele ainda bate nas rochas.
Ao longe observo movimento, trata-se de um melro-azul Monticola solitarius, uma ave de cor azul, que habita em zonas rochosas como esta.
Volto a passar no poço dourado, desta vez com água.
Finalmente algo me faz mudar a objectiva da máquina fotográfica… algo com cor!
Uma joaninha-de-sete-pontos Coccinella septempunctata, algo extravagante para o frio que se faz sentir. Para os mais curiosos espreitem aqui: https://respiranatureza.com/2017/03/19/joaninha-de-sete-pontos/
Abraço e até uma próxima!
Adorei,aqui tão perto e desconhecia, belas fotos e grande reportagem, parabéns.
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