Por todo o país existem locais enigmáticos, e as “Fragas do Diabo” no Caratão (Concelho de Mação) também são…
Os antigos intitulavam este local como “Fragas do Diabo” pelo facto de existirem estranhas gravuras que não entendiam o sentido… coisas do diabo!
Neste local também apelidado de Cobragança existem gravuras muito antigas, a cerca de 340 metros de altitude, situadas a Sudoeste da aldeia. Gravuras estas da Idade do Bronze Final (1000 a 500 A.C.) que vi pela primeira vez em 1998. Na altura tudo era diferente, estavam encaixadas no meio de grandes pinheiros, lembro-me como se fosse hoje no céu pairava o suspense… existiam fetos e muita caruma e respirava-se natureza.
Nas rochas vi aquelas formas estranhas, que, com todo aquele conjunto natural me pareceu perfeito… decoradas com círculos concêntricos, formas ovais, rectangulares, um desenho que talvez represente uma flor e outros traços que aparentam homens e talvez animais.
Todas elas feitas pelos nossos ancestrais através do método de picotagem, conseguido quando se dá sucessivas pancadas sobre um percutor decorando neste caso a rocha. Estas figuras estão divididas em duas superfícies rochosas de cor avermelhada, hoje a cor encontra-se um pouco alterada devido ás reacções provocadas pelo fogo.
As gravuras foram identificadas na década de 40 do século passado, pelo Dr. João Calado Rodrigues a quem podemos titular como pai do Museu de Mação.
Em 2003 o fogo destruiu a paisagem existente, e as figuras sofreram a primeira grande erosão, as altas temperaturas a que as rochas foram sujeitas colmataram em perdas irreversíveis. Já em 2017 foram sujeitas a outra grande provação, outro incêndio de grandes dimensões.
O meu amigo Gonçalo tirou fotos depois do incêndio, esta fotografia abaixo tirada a 29 de Julho de 2017.
Como podemos ver como as gravuras estavam sujeitas ao perigo, pois o pinhal crescia denso em seu redor, e por mais uma vez passaram por altas temperaturas e a degradação é visível. Na altura o Gonçalo limpou o material que havia em cima das rochas e ficou por ali.
Já tínhamos falado um pouco sobre o assunto e trocado algumas ideias, e desta feita passamos à acção, lavar a cara ao local fazia todo o sentido.
Na tarde de dia 30 de Dezembro começamos por retirar os pinheiros queimados e criar um perímetro com pedras à volta da área escavada sem interferir na zona que foi intervencionada. No interior não pode existir material combustível que coloque as figuras em risco.
Toda a intervenção foi realizada por processos manuais sem recurso a ferramentas motorizadas que possam quer através de projecções ou vibrações danificar o local arqueológico. Não foram realizadas escavações nem qualquer movimentação do subsolo. Não foi retirado material da área de protecção.
A ideia é implementar um perímetro, sem árvores facilmente inflamáveis junto aos painéis no círculo central, esse perímetro deve proteger o monumento de forma a que mesmo que a área em redor volte a arder as árvores não voltem a cair em cima das rochas nem o calor resultante possa danificar ainda mais o local arqueológico. No local onde cada pinheiro foi arrancado espalhei sementes de vários tipos de bolbos silvestres nativos de Mação, que com o tempo irão dar um pouco mais de alegria ao local, já que por ali não vi nenhum.
Afastadas plantei cerejeiras bravas e alguns sobreiros que irão dar outro brilho à paisagem, e uma protecção diferente do que a protecção dada por árvores como pinheiros ou eucaliptos.
Antes de ir embora aproveitámos para dar uma volta na área envolvente onde observei algumas curiosidades. Entre elas nos marcos que assinalam os terrenos. Para efeito um deles era uma lage cheia de icnofósseis provavelmente com cerca de 480 milhões de anos. Pormenor incrível não?! Se as gravuras terão cerca de 3000 anos esta pedra tem registos de 480 milhões de anos…
Uma curiosidade menos boa é sem sombra de dúvida o mal que se aproxima silenciosamente, milhares de háqueas espinhosas, também conhecidas como pinheiro ratinho crescem pelos campos.
Uma espécie invasora originária da Austrália. Se bem se lembram escrevi um artigo há um ano atrás talvez.
Podem ler aqui: https://respiranatureza.com/2016/09/14/pinheiro-ratinho/
Arranquei bastantes no entanto a população tem de se envolver e trabalhar toda em conjunto, pois por enquanto não tem sementes e este mal pode ser travado. Uma tarde perdida é um grande exemplo a seguir.
Eu vou tentar dar mais um pouco e limpar uma área, e se me perguntarem se preciso de ajuda, não preciso, mas sem dúvida alguma que o concelho precisa e as pessoas idosas também, por isso apelo a que grupos se juntem, associações etc, os locais tem de ser identificados e combatidos para o bem comum.
Ainda encontrei uma “gravura” estranha a cerca de 800 metros do local arqueologico… será um antropomorfo? Ou uma partida da natureza? Não sei, vou falar com quem de direito.
A noite aproximou-se rapidamente e demos o nosso “trabalho” como acabado… pelo menos por agora, pois este local tem de continuar a ser vigiado.
Obrigado ao meu amigo Gonçalo Lobato, pela ajuda e pelas boas ideias que o acompanham!
Últimas fotos da envolvência…
Erva-das-sete-sangrias “Lithodora prostrata”
Uma bonita urze…
Cogumelos, musgos…
E um grande abraço a todos os leitores!
Gady
Obrigada por nos fazer conhecer tantas e variadas coisas que, estou certa, que muitos e muitos nunca nelas ouviram falar. A começar por mim! A nossa riqueza como terras do interior esquecido (nunca falado, muitas vezes desconhecido) está agora a revelar-se pela capacidade de gente que sabe dar-lhes o valor arqueológico e culturalmente ancestral que nos dá outra percepção e conhecimento e nos honra! Mais uma vez, obrigada.
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Gostei muito do que acabei de ler do qual nao tinha conhecimento. Sou tambem do concelho de maçao mas estas pedras no caratao eram me totalmente desconhecidas. A anta do rio frio deixou me admirada muito diferente doutras que tenho visto. so tive pena de nao ter alguem que soubesse explicar aquilo que estava a ver .
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parabéns Gady. Tenho seguido o teu Blog e noto a tua paixão pela natureza e por Mação. Havemos que aproveitar estes dados para a construção dos Percursos Pedestres e Conteúdos no SITE da CM Mação que deverá ter uma parte sobre estes temas. Abraço. Leonel
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Obrigado Leonel, tens todo o meio apoio na medida do possível para a realização desses trilhos.
Grande abraço
Gady
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Excelente trabalho de pesquisa e divulgação destes sítios e da arqueologia do tempo remoto.
Ainda na passada semana fui visitar a Anta do Rio Frio, na freguesia da Ortiga.
Muito obrigado
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Também é um local muito bonito 🙂
Abraço!
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Meu caro Gady,
Leio com muito interesse e atenção os teus comentários.
Vejo que és um verdadeiro botânico e zoólogo e sobretudo admiro a tua acção e dinamismo .
Bravo!
Onde são essas fragas do diabo?
Gostava de ir lá quando for a Portugal.
Continua.
Excelente ano novo 2019.
Abraço.
Joaquim Filipe
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Obrigado pelo seu comentário.
Ficam perto do Caratão no Concelho de Mação.
Avise quando cá estiver, se eu puder vou lá mostrar.
Abraço e um excelente 20019!
Gady
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Gostei de ler e achei curioso nasci em Mação mas não sei vou à anos interesso me sempre pelas notícias obrigada
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Tem de visitar um dia que venha a MAção.
Abraço 🙂
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