O Castelo Velho do Caratão – Mação

“Entre Bandos e Rebandos, e os dois caratões ambos, e a rua da Amieira, e o penedo Aivado, há oiro arraiado, que chega ao ferro do arado”

Este é um velho ditado popular da aldeia do Caratão.

Nos dias que correm a paisagem continua negra, apesar de já ter passado mais de um ano após o último grande incêndio no Concelho de Mação. O verde tarda em chegar a certos locais.

Estou no alto do Castelo Velho dali observo o estreito, e toda a serra da Alfeijoeira com toda a sua crista quartzítica. Tento imaginar como seria quando na paisagem ainda existia uma floresta antiga. É difícil, no entanto imagino que reconfortante seria e de certa forma suavizaria o vento agreste que se faz sentir.

Locais cheios de história e histórias…

Entre a Ribeira do Aziral que passa no estreito e a Ribeira do Caratão que passa no lado oposto está o Castelo Velho, um lugar que se eleva com grande declive. Em tempos passados existiu ali um castro, até aos dias de hoje existem três castros identificados em Mação este é denominado de Castelo Velho do Caratão.

Remontemos à Idade do Bronze Final cerca de 3000 anos a.C. quando um povo antigo ergueu no cume desta serra um castro. Um lugar elevado de acesso difícil em que podiam observar tudo em seu redor.

Aproveitando as fragas existentes adaptaram as muralhas ao que encontraram na paisagem e construíram um castelo muito rudimentar com o objectivo de se refugiarem e defenderem em caso de alguma ameaça.

Com paredes com mais de 1,5 metros de espessura, feitas em pedra seca criaram um marco histórico. Em tempos talvez comunicassem com outros locais elevados vizinhos através do fogo. O Castro da Zimbreira e o alto do Bando dos Santos.

Hoje em dia pouco se percebe, tudo foi destruído com o tempo, hoje apenas podemos imaginar como seria a vida daquela gente em tempos longínquos.

Dando umas voltas um pouco abaixo do cume existem locais fantásticos, um deles é sem dúvida um capricho da natureza, que sem querer fez uma escada perfeita para subir ao castelo.

Outros motivos existem, várias concavidades que caso chovesse me dariam muito jeito.

Apesar de tão antigo o castro foi identificado pelo entusiasta juiz de Mação, Dr. João Calado Rodrigues, datava então o ano 1946.

Através de escavações posteriormente feitas e através de artefactos encontrados, sabemos que no seio daquele povoado existiam desde guerreiros, artesões e agricultores. Escavações essas executadas mais tarde nos anos de 1983/84 dirigidas na altura pela antiga diretora do então Museu Municipal Dr. João Calado Rodrigues, Dr. Maria Amélia Pereira Bubner, hoje Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo.

O aguerrido povo lusitano, filhos de uma cultura castreja, tratavam estas serras como se fossem o seu cavalo, um povo das montanhas. No livro de Maria Amélia (Monumentos históricos de Mação) refere que o Trogo Pompeu um historiador galo-romanizado do século I a.C. descreve este povo com estas palavras “Tem preparado o corpo para a abstinência e a fadiga e o ânimo para a morte”.

Imagino que desenvolveriam as actividades agrícolas no fundo do vale onde existem boas terras de aluvião.

Perto do castelo existiria um povoado, inexistente nos dias de hoje, as casas seriam quadrangulares ou rectangulares, aldeia esta que se desconhece o local certo.

No topo reparo que existe uma área remexida, há uns meses tinha encontrado, mas deixei no local uma grande pedra de granito, e outros pedaços de rochas que só estão naquele local porque foram trazidas há 3000 anos atrás. Por exemplo o granito existirá na zona de S. José das Matas, Vale da Abelha e Ortiga, e Casal da Barba Pouco e Monte Penedo, muito longe para um tempo em que não existiam carros nem vias? Também vi por ali seixos do rio entre outros. Ou seja, os vestígios continuam a existir.

Quando percorro estes lugares espero sempre encontrar algo novo, mas até hoje nada me saltou à vista. Apenas suposições que guardo comigo.

Sentado no topo desta serra, observo a paisagem, no céu voam andorinhas-das-rochas, e uma águia-de-asa-redonda atravessa o vale mais em baixo.

Observo o moinho de vento da Fadagosa Alongo a vista no horizonte… faltam as árvores e toda a biodiversidade que as acompanham, mas isso hoje é apenas um desígnio do tempo, pelo que tenho de esperar longos anos.

Recuo no tempo e a única coisa que me resta dizer é que bravo povo.

Para os próximos tempos espero percorrer o estreito, e ver que histórias ou palavras posso descrever trazer para vocês.

Para quem quiser saber algo mais sobre o local, visite o Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo em Mação!

Uma ultima foto, esta tirada no Verão de 2018. Que bela cascata! A cascata do “Chorro”, ali perto na Ribeira do Caratão. Lendas antigas dizem que tal cascata estaria ligada por baixo de água ao pego da Moura, situado abaixo da buraca da Moura entre as Casas da Ribeira e a ponte do Castelo.

Grande abraço!

Gady

Referências bibliográficas:

PEREIRA, M. A. H. (1970), Monumentos Históricos do Concelho de Mação. Câmara Municipal de Mação. Gráfica de Coimbra.

 

6 thoughts on “O Castelo Velho do Caratão – Mação

  1. Na segunda fotografia podemos ver as ruínas daquilo que foi uma habitação. O meu avô José Alves Moita era o filho mais novo da última família que aí habitou. O meu avô nasceu em 1913, se fosse vivo faria em Outubro 106 anos. Lembro-me ainda de ir a essa casa onde vivia ainda a minha bisavó, Maria Sertainha ( parece que era assim chamada porque teria vindo da Sertã, não sei se teria outro nome). Esta família, vivia essencialmente do peixe que apanhavam nas ribeiras e como tinham muitas azenhas nas ribeiras e no Tejo, viviam de moer o cereal das muitas famílias que viviam, no concelho de Mação e de outros concelhos limítrofes.

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    • Que bonito relato, gosto de ouvir este tipo de lembranças. Já lá estive perto, junto que existe uma azenha perto, se não estou enganado. Então e não ia nadar para a cascata do Chorro? Também é um bonito local.
      Abraço

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  2. ” Entre Bandos e Rebandos, e os dois Caratões ambos, e a Rua da Amieira, e o penedo Aivado, há oiro arraiado, que chega ao ferro do arado”.
    Já o saudoso historiador da Pracana da Ribeira, P.e Henrique Louro, na sua extensa obra nomeadamente ” CARDIGOS – Subsídios para a sua História ” ,se referiu ao” oiro ” na n/ zona, ao cimo da terra onde se chega ao lavrar com o arado. E a Rua da Amieira a que se refere acima nasce na Praça de Cardigos. Por onde também passou o corpo da Rainha Santa Isabel a caminho de Coimbra. Abraço , Gady Rui Santos.

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