Mação. O Estreito, paisagem e história…

Entre o Castelo Velho do Caratão e a Serra da Alfeijoeira, encontra-se o famoso estreito, onde a crista quartzítica é cortada pela ribeira do Aziral, um local de beleza ímpar mesmo destronado de muita vegetação que certamente complementaria o conjunto.

Já conheço esta zona há alguns anos, no entanto, com a fisionomia do terreno exposta torna-se mais fácil explorar certos locais.

Noto no terreno que a inexistência de vegetação, esta a facilitar a erosão dos solos e consequente arraste da terra pelas águas da chuva.

Um pouco acima do estreito observo a antiga aldeia do Aziral, hoje sem habitantes, um local aprazível, com boa terra, água e a calma da natureza. Por ali encontramos antigas azenhas como a conhecida azenha do Cavaco e pouco mais acima desta, o pego do Moreno onde já muitos se banharam. Eu, talvez há uns 17 anos atrás, cheguei a ir lá acampar com uns amigos.

Claro que hoje tudo está diferente e desfigurado pelo último incêndio. Com o chegar da Primavera, pelo menos, junto ao leito da ribeira os amieiros que resistiram ao fogo animarão a paisagem.

No estreito, muitos são os recantos existentes. Por esta altura do ano na parte virada para Norte sente-se o frio e a humidade, pelo que tenho de ter cuidado com as quedas. Por ali ainda os bolbos de Inverno não despontaram as suas flores, mas está para breve.

Olho para as rochas e parece que elas me querem contar as histórias de quem noutros tempos já as pisou, de como se formaram, no entanto hoje ali o silêncio é rei, apenas o barulho de uma pedra soa ao rebolar pela encosta abaixo.

No fundo do vale está a velha ponte do Aziral, da qual espero escrever aqui um artigo, no entanto neste dia não fui lá abaixo.

Perto da ponte também existe uma velha azenha ou moinho ainda não o observei bem, mas a levada de água que trazia a força para moer o cereal passa por baixo da ponte…

Uma rocha chama-me a atenção. Reparem neste enorme pedregulho. Está assente numa pequena rocha que mais se assemelha a um marco… isto daria direito a mais umas lendas não acham?

Mais acima existe uma pequena caverna, mas desta vez não cheguei a passar por lá.

Volto a subir a serra e aproveito para fotografar os socalcos que sem o arvoredo se deixam ver como se fossem cicatrizes na paisagem.

Mais abaixo deste local a ribeira do Aziral perde o nome ao juntar-se à Ribeira de Eiras. Existem ruínas do que em tempos foram casas, palheiros, moinhos e azenhas… velhas hortas…

Em conversas informais que tive com várias pessoas, entre elas João Canas, Raul Esteves Coluna, Lurdes Ditas, Júlio Marques Alves, Maria Otilia Severina, Marques Pires, fico a saber que há 50 anos atrás ainda era um local cheio de vida e por ali existiam duas pinheiras… por ali plantava-se milho, era uma vida árdua, mas saudável.

Segundo me contaram, os últimos habitantes daquela casa teria sido Joaquim Alves Moita e Maria Rosário Marques mais conhecida como “Ti Sertainha”, que tiveram seis filhos e quatro filhas. O filho mais novo terá sido José Alves Moita que nasceu em 1913… como podem ver já passou mais de um século.

Esta família vivia do peixe que apanhavam na ribeira, das hortas, do moinho e da azenha, pois aquele edifico que se observa à direita foi um moinho e uma azenha. Viviam também da moagem do cereal.

Por ali tanto num lado como do outro da ribeira plantava-se milho e certamente outros cereais, havia olival e outras árvores. O trabalho não era fácil, apenas era facilitado pelos animais, a que recorriam para arar as terras, transporte, entre outros. Por ali existiriam muitos carreiros na altura vias secundarias para circularem pelo campo. As vias principais seria estradões (mais largos).

A casa tinha dois pisos e um palheiro, à direita um velho forno onde provavelmente se coseu muito pão.

Antes da ponte do Estreito existir e quando a ribeira levava muito caudal as populações ficavam isoladas. Ou seja, a velha ponte do Aziral foi uma obra muito importante para aquelas gentes.

Não existe consenso de quando foi construída, uns dizem que foi na década de 30 do séc. XX, outros dizem que já existia antes.

Numa próxima oportunidade tentarei deslocar-me até à velha ponte, e explorar um pouco mais a parte Oeste do Estreito.

Mais umas fotografias do local…

Abraço!

7 thoughts on “Mação. O Estreito, paisagem e história…

  1. Eu lembro-me do moinho estar a trabalhar , nos anos 60 , no Verão ia para a Vaja Franca regar o milho, creio que o moinho era de pessoas do Caratão , entre eles o Luis Branqueiro , primo direito do meu pai , casado com uma senhora chamada Inácia .

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  2. A ponte do estreito permanece com os mesmos acessos de quando foi construída, ao que parece ainda no século IXX, por um mestre de obras de seu nome , ou pseudónimo, Artes . Da autarquia de Mação esperar-se-ia que construísse acessos a esta obra de arte que mais cedo ou mais tarde acabará por ruir dado o seu adiantado estado de degradação. A autarquia está preocupada com outros temas , tem outras prioridades e essa obra de arte não faz parte dessas prioridades apesar de possuir o equipamento, maquinas e pessoal habilitado para trabalhar com elas. Uma boa parte do estradão que, partindo do estradão Caratão/ Fadagosa junto da Ribeira de Eiras foi ampliado por mim , faltam menos de 200 metros para a sua conclusão até à ponte do lado norte. Do ado sul serão menos de 500 metros até ao Estradão que partindo do Vale de Grou contorna a Serra da Alfeijoeira passando pela povoação (agora praticamente abandonada) da Ribeira ou Aziral

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    • Boas. Sim a ponte deve e merece ser mantida já que é um elemento e um marco que une as duas partes do estreito. Quanto a abrir estradão até à ponte será de certa forma banalizar o que é belo pela simplicidade que tem. Grande abraço

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  3. Ligeiramente para poente da Ponte conhecida por ponte do Estreito as construções em ruínas eram um moinho movido agua por um rodízio e o anexo era o estabulo dos animais do moleiro. A diferença para as azenhas é que estas embora também movidas por agua tinham uma roda em vez do rodízio. Quanto à ponte do estreito estou em crer que deve ter sido construiria ainda no séc. IXX porque nos anos 50 do século XX quando por ali andava em criança já as protecções laterais estavam parcialmente em ruínas. Vou questionar o a minha sogra sobre este assunto porque ela nasceu em 1920. Pena que o estradão não chegue à ponte, faltam uns escassos 100 metros apenas e do lado sul existe apenas uma vereda onde só pessoas animais ou motos conseguem circular. Eu próprio que tenho ali varias propriedades uma delas confinante com o moinho aumentei esse estradão ás minhas custas mesmo até à minha propriedade recentemente, mas não o terminei por a lousinha ser muita dura . Aí está uma obra que a Camara Municipal deveria fazer bem como restaurar a ponte porque corre o risco de derrocada mais ano menos ano .

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      • Boas Sr. Álvaro.
        Realmente existe uma dúvida quanto à data de construção. Na semana passada tive a falar com o Ti Delfim juntamente com o amigo Raul Coluna. O Ti Delfim diz que a ponte será mais antiga do que se julga. Provavelmente do Séc IXX.
        Sim é das pontes que mais gosto no nosso concelho, até pela paisagem que a abraça.
        Ainda se recorda deste moinho trabalhar? Quem seriam os seus donos?
        Bonitas histórias haverá para contar sobre este local.
        Abraço!

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