À descoberta das Terras de Castro Vicente – Parte 2

Continuação do último artigo…

Depois de um bom pequeno almoço, todos se encontravam dispostos para início da caminhada, uma caminhada interpretada é sempre um bom motivo de convívio e uma mais valia para qualquer pessoa que goste de aprender. Uma breve apresentação em frente à igreja paroquial de Castro Vicente e partimos todos juntos para a aldeia de Porrais.

Como planeado antecipadamente, iriamos tocar em alguns temas específicos, entre outras eventualidades com que obviamente, nos iriamos deparar, visto que a biodiversidade nestas paragens é riquíssima.

Ainda dentro da aldeia de Porrais, num antigo casario, observo lá no alto um ninho de andorinha dos beirais. Aproveitei o momento para falar um pouco sobre as espécies de andorinhas que podemos encontrar em Portugal e no concelho de Mogadouro, tentei ser mais assertivo em relação à andorinha das rochas (Ptyonoprogne rupestris), também conhecida como a andorinha do inverno visto que não é migradora como as restantes. Espécie que inevitavelmente iriamos observar junto às fragas da ribeira do Azibo onde nidificam.

O dia apresentava-se agradável, depois da neblina matinal, o sol facilitava a boa disposição.

Numa parede resguardada do vento, encontramos uma planta comestível, a orelha de monge, também conhecida por umbigo de vénus, conchelos, entre outros nomes. Para ser mais preciso (Umbilicus rupestris) uma planta suculenta que toda a gente já viu, mas que a maior parte desconhece as suas propriedades. Mais à frente uma azeda (Rumex acetosa) também uma planta comestível, esta de facto azeda ao paladar. Aproveito para realçar que a azeda além de ser comestível, também é a planta hospedeira da borboleta acobreada (Lycaena phlaeas) que podem espreitar neste artigo: https://respiranatureza.com/2017/05/19/acobreada/

Calmamente avançávamos pelo trilho, sem dar muito nas vistas eu olhava para o céu à procura de algum indício de aves de rapina para poder puxar outro tema, mas nada… as conversas iam-se desenrolando naturalmente, uma fotografia aqui outra acolá.

De qualquer forma acabámos mesmo por falar acerca de algumas aves de rapina que poderíamos vir a encontrar. Falei sobre os milhafres, águia cobreira entre outras espécies. Mas se as aves de rapina não deram ar da sua graça, heis que duas cotovias arbóreas pousam ali bem perto do grupo o que causou um borburinho delicioso.

A dinâmica deste grupo era engraçada, ora os participantes se encontravam concentrados, ora dispersos ao longo do trilho, pelo que as pequenas palestas eram úteis para reunir o grupo que obviamente se iria voltar a dispersar…

Pelo caminho foram muitos os motivos de interesse, fossem plantas como o trovisco, lentisco, zimbro, eufórbias, os carvalhos ainda despidos de folhas com os seus bugalhos pendurados, as amendoeiras em flor, ou os primeiros narcisos que já se precipitavam da terra. A bacia do rio Sabor e toda a paisagem envolvente que a nossa vista alcançava assim como o som quase interrupto das aves que já adivinham o aproximar da primavera.

Junto a uns pinheiros retorcidos escutei chapins e tentilhões, uma escrevedeira de garganta preta … momento certo para falar um pouco sobre aves granívoras e omnívoras.

Sempre a descer acabámos por atravessar um olival e chegar a uma estrada que teríamos de cruzar a caminho da ribeira. Ali saltou à vista um sinal coberto por líquenes algo caricato de uma beleza estranha e contemporânea, “sinal” que na zona respiramos ar puro, não fossem os líquenes um bom bioindicador de pureza do ar, isto acontece, pois, os líquenes retiram tudo o que necessitam da atmosfera e vão acumulando nos tecidos. Se pensarmos um pouco constatamos que de pouco se podem alimentar do metal e tinta que constituem este sinal de transito.

Do lado de lá da estrada já podíamos observar a ribeira ao fundo do vale. Estávamos prestes a chegar à zona mais agradável desta caminhada, o som da água a correr coloca-nos em alerta mas num sentido mais prazeroso.

Quero agradecer o contributo de algumas fotografias dos amigos Jacinto Lousão e Luís Meleiro (Fotos identificadas, sem elas eu não apareceria neste artigo, muito obrigado).

Aguardem pelo próximo e último artigo.

Abraço!

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